Minha tentativa bem sucedida de uso do Linux!
QUANTA COISA mudou desde essa postagem de 2 anos atrás. Faz cerca de um mês que estou usando o Linux Mint como meu principal sistema, pra jogar, trabalhar, e até fazendo lives e vtubing!
Nos últimos meses eu ainda continuava testando pouco a pouco o Linux Mint e o ZorinOS, e eu nem lembro exatamente o que foi que me motivou a testar o Mint dessa última vez, possivelmente foi alguma notícia desagradável envolvendo o Windows 11. Recentemente fiz um upgrade da minha placa de vídeo pra uma Radeon RX 7600, e eu também queria testar como ela ia performar no Linux (já que as placas da AMD tem um bom suporte). Então formatei meu SSD secundário com a última versão do Linux Mint (21.3, com o ambiente Cinnamon, meu favorito).
A primeira coisa que ocorreu, com o upgrade do hardware, foi que o Mint não reconheceu o segundo monitor. Aqui cabe uma explicação: O Linux carrega muitos drivers embutidos diretamente no kernel (que é o núcleo, a parte principal do sistema, explicando duma forma fácil). Assim, se você compra um hardware novo lançado há pouco tempo, como a minha placa de vídeo do exemplo, e esse hardware não funciona de primeira, geralmente basta atualizar o kernel para uma versão mais nova e reiniciar o sistema. No Linux Mint isso é feito abrindo o Gerenciador de Atualizações, depois no menu Exibir / Kernels Linux.
O Mint 21.3 vem com o kernel 5.15 instalado, que é bem estável (tem suporte extendido até 2027) mas já um pouco antigo. Na janela que surge eu escolhi uma das versões 6.5, que é mais recente que está disponível oficialmente pra ele. Feito isso, bastou instalar e reiniciar. Pronto, meu segundo monitor estava funcionando =]
A próxima coisa que fui testar era o VTube Studio, programa que abre o model VTuber para exibição e captura os movimentos. Ele é um programa disponível na Steam. Como talvez saiba, a Steam fez uma ferramenta chamada Proton, que junta várias soluções para tornar programas e jogos do Windows compatíveis com o Linux, e é com isso que você consegue rodar muitos jogos no Steam Deck (portátil da empresa que, olha só, roda um sistema operacional Linux próprio da empresa). Esse projeto beneficiou horrores os usuários de Linux no geral, já que a mesma ferramenta está disponível pra todo mundo do sistema do pinguim, então hoje, diria tranquilamente que 2/3 de todo o conteúdo da Steam, se não mais, roda sem problemas no Linux. Para ativar, é só entrar no cliente, ir em Configurações, Compatibilidade, e ativar ambas as opções Ativar Steam Play para títulos compatíveis e para todos os outros títulos.
Feito isso, eu baixei e instalei o VTube Studio. Ele tem um problema até hoje no Linux, de não conseguir reconhecer a webcam para usar na captura de movimentos. O Proton da Steam usa o Wine por baixo dos panos, um programa que cria uma camada de compatibilidade para programas do Windows, porém ele não é perfeito, como este caso mostra. Mas aí me veio um lampejo. No Windows eu já usava outros programas para ajudar na captura de movimentos. Eu uso um iPad como câmera, com ajuda de um app pra iOS chamado iFacialMocap, e eu passava os movimentos dele pro PC usando outro programa chamado VBridger, disponível na Steam (ambos são programas pagos), e esse terminava de enviar a captura de movimentos pro VTube Studio na forma de um plugin. E se eu fizesse a mesma coisa no Linux Mint? Pois é, instalei o VBridger, abri o iFacialMocap no tablet, conectei o VBridger no VTube Studio da mesma forma como eu faria no Windows, e voalá! Meu model estava se mexendo!
Depois fiquei sabendo que o tracking do VTube Studio via a versão smartphone dele também funciona no Linux. Eu só não utilizo porque como tenho um Android, o tracking não ficaria com uma qualidade tão boa, mas essa opção também existe.
BOM, isso quer dizer que eu conseguiria até fazer lives por aqui então! Certo? Certo! O OBS possui versão nativa pra Linux, então com isso eu não precisaria me preocupar. Mas faltaria uma coisa pra mim. Meu model tem uma característica muito específica: ele tem fones que reagem aos sons e músicas que estou ouvindo no momento. Isso é feito usando uma opção do VTube Studio, onde eu escolho uma entrada de microfone para capturar o áudio e enviar pro model. Mas essa função foi pensada, como pode perceber, para uso de microfones, e não do áudio que eu estou ouvindo no desktop. Então, pra capturar o som do desktop, no Windows, eu tinha que fazer umas gambiarras. Primeiro, usar um programa chamado Virtual Cable, da VB-Audio, abordado em parte deste vídeo. Ele cria uma entrada e uma saída de áudio virtuais no sistema. Daí, no OBS, eu fazia a captura de sons do desktop, e nas configurações de monitoramento, eu escolhia como saída o dispositivo virtual que aquele programa criou, e então, no VTube Studio, eu escolhia como “microfone” o cabo virtual criado. E pronto, o que o OBS ouvia, era enviado pro model e ele reagia. Isso tinha um porém: Como o monitoramento era desviado, eu não conseguia mais escutar meu próprio monitoramento, como certas músicas de fundo e efeitos sonoros, e ficava sem retorno pra saber se o volume estava bom pros ouvintes e etc. Daí eu descobri um plugin do OBS pra resolver isso, chamado Audio Monitor. Ele cria um filtro, que eu adiciono nas fontes que eu quero, e cria uma segunda saída de monitoramente que eu podia redirecionar diretamente pros meus fones (os reais, que eu uso na cabeça, não o do model tá xD). E é assim que eu fazia lives com meu model no Windows. E ainda, apesar de tudo isso, eu ainda ficava com uma limitação: os fones virtuais só funcionavam se eu deixasse o OBS aberto, pois dependia dele pra capturar o áudio, mas isso é algo de menor importância.
AGORA, COMO “*¨@#(*%$¨” QUE EU FARIA TUDO ISSO FUNCIONAR NO LINUX? Parecia uma tarefa impossível. Pois, amigos, a solução, acreditem se quiser, foi mais simples, e funcionou melhor.
Eu baixei um kit de instalação do Pipewire pro Linux Mint neste link e rodei o scrip conforme as instruções (fim. É sério. Já explico). Esse Pipewire é um sistema de multimídia que, entre outras coisas, faz túneis de som entre aplicativos, e já vem por padrão em algumas distros. Ele vai vir por padrão no Mint na próxima versão, a 22, então até mesmo esse passo vai ficar desnecessário no futuro. Bom, reiniciei o sistema. Abri o VTube Studio e… pra minha surpresa, vi que havia um dispositivo chamado “Monitor do controlador de áudio”. Decidi selecionar ele pra testar, e fiquei pasmo. Meus fones já estavam reconhecendo o áudio do desktop! Eu não precisei mexer em nada no OBS, na verdade agora nem precisava mais do OBS pra fazer isso acontecer.
O resto é resto. Levei uns três dias para ir configurando as cenas novamente tudo bonitinho no OBS (essa foi a parte mais chata, porém aproveitei pra limpar muitos restos de cenas que estavam se acumulando). E em uma semana já estava fazendo lives como vtuber jogando no Linux. Minhas séries de Digimon Story Cyber Sleuth e Pokémon Colosseum estão sendo feitas no Linux desde então.
Eu poderia citar brevemente outras coisas que estou gostando, além de vtubing. O Linux Mint reconhece automaticamente minha impressora multifuncional sem fio conectada na rede, sem precisar instalar nada da HP (pois o driver já está no kernel). Meu controle sem fio da 8bitdo também funcionou de primeira. E comprei um app chamado Insync, que sincroniza automaticamente meus arquivos com o OneDrive da mesma forma como o Windows.
Mas claro, nem tudo são flores ainda. Eu consigo jogar Honkai StarRail usando um launcher não-oficial chamado Honkers Hailway, porém se eu tentar streaming ao mesmo tempo, por algum motivo misterioso o sistema desliga do nada com certa frequência (fica mais estável com apenas o jogo aberto). E tive uma decepção recente com o League of Legends, por culpa da Riot, que por ter incluído o Vanguard quebrou a compatibilidade com Linux (antes ele executava perfeitamente). Pra certas coisas, ainda vou ter que revisitar o Windows 10, que segue disponível pelo dual-boot no PC, mas agora como sistema secundário.
AH, e pra quem não sabe: Instalar programas no Linux é hoje em dia mais fácil que no Windows. No Windows geralmente você precisa descobrir o site certo do programa no Google (coisa que tem ficado cada vez mais difícel, diga-se de passagem), baixa um executável, tem que passar por vários “próximo / próximo / próximo”, escolher onde instalar, e tomar cuidado pra não vir o Baidu junto. Nas distros Linux hoje em dia é comum encontrar uma loja de apps bem semelhante ao que vc está acostumado no seu smartphone: é só pesquisar o programa e mandar instalar, ele vai fazer todo o processo sozinho.
Enfim. Basicamente, essa foi a tentativa mais bem sucedida no Linux que tive até então. Eu sei que não é um sistema pra todo mundo, tem programas e jogos que não são compatíveis (ainda!). Mas será que pro seu caso específico ele já não é uma boa alternativa? A maioria das distros podem ser testadas em PCs/notebooks diretamente de um pendrive bootável, sem precisar formatar nem instalar. Então, eu deixo o convite, teste! Não precisa ser necessariamente o Mint, tem vários outros com aparências e jeitos de funcionar diferentes, todos atualmente bem maduros, como o ZorinOS, Ubuntu, Manjaro, PopOS, Fedora… esses são os que eu indicaria pra iniciantes. Tem uns loucos nessa comunidade que dizem “você tem que usar o Arch, com esse sim vc vai aprender como o Linux funciona montando ele do zero” sendo que claramente não é uma distro voltada pra iniciantes, embora nada te impeça de tentar. Nem todo mundo quer aprender a fabricar um carro do zero soldando placas de ferro, a maioria só quer sentar num banco confortável e sair dirigindo. E felizmente, isso está ficando mais comum no mundo Linux.
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